Salvaguarda aos vinhos importados



Foto de Wanderley Oliveira (Photoação)
“O Governo brasileiro está a ponderar uma medida de salvaguarda que, em termos práticos, poderá resultar no estabelecimento de quotas máximas de importação por origem. Portugal, Itália, França, Espanha e o Chile, este último fora do Mercosul, serão os grandes prejudicados se a medida avançar. A medida protecionista resulta da forte pressão que os produtores de vinho no Brasil estão a exercer junto do Governo de Dilma Rousseff, sendo que também não há certezas, por exemplo, sobre o período temporal em que vigorará. A medida foi solicitada por três anos, podendo ser renovada.”
Fotos: Vinhos Nacionais, do Mercosul e Europeus - Wanderley de Oliveira  
Em seguida o texto de uma entrevista do “Diálogos Gourmet” ao experto em enogastronomia Francesco Cherubin sobre o argumento da salvaguarda aos vinhos importados.
Diálogos Gourmet: Em sua opinião, se houver uma salvaguarda aos vinhos importados, os brasileiros conseguirão “sobreviver” com os vinhos nacionais? Por que?
Francesco Cherubin: Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que considero errada e injusta qualquer tipo de restrição, independente da área a que deva ser aplicada. Não acho corretas atitudes que tendem a proteger uma única categoria, neste caso, os vinhos brasileiros. O alto custo das importações acarretaria na diminuição da oferta em variedade e quantidade de vinhos no mercado brasileiro, algo extremamente negativo, pois isso não estimularia o melhoramento qualitativo na produção interna e tiraria dos consumidores a liberdade e oportunidade de escolha. Hoje o consumo de vinhos no mercado brasileiro está em forte crescimento, mas ainda não se compara a outros países como Chile e Argentina, ou Itália e França. Um exemplo é o consumo anual de vinho na Itália, são 50 litros per capita, enquanto que no Brasil, o consumo anual é de 2 litros per capita. Fatalmente essa restrição funcionaria como um freio sobre esse novo mercado em expansão.
Diálogos Gourmet: Acredita na possibilidade da salvaguarda aos importados? Por que?
Francesco Cherubin: Como já mencionado anteriormente, volto a afirmar que o aumento de impostos sobre os vinhos importados só teria efeitos negativos. A produção nacional de vinhos ainda precisa melhorar muito em termos de qualidade. Aplicar um método de concorrência desleal, tornando o ‘inimigo‘ mais caro e, portanto inacessível a muitas pessoas, não vai contribuir para a melhora do produto nacional. Pelo contrário, estimularia cada vez mais a perda de qualidade. Não devem ser criados monopólios, mas deve-se sempre buscar o know-how com quem o possui e buscar sempre um melhoramento.
Diálogos Gourmet: O que acha dos vinhos nacionais em relação aos importados?
Francesco Cherubin: Do ponto de vista da vitivinicultura o Brasil é ainda uma criança, está dando os primeiros passos rumo ao mercado dos vinhos de qualidade. Ainda necessita caminhar um pouco para chegar aos níveis de qualidade de grandes produtores, como França, Itália e até mesmo o Chile, que ainda é considerado um mercado jovem, mas de grande excelência. Todavia, é necessário ressaltar que o território brasileiro não apresenta condições geográficas ideais para o cultivo da Vite Vinifera, responsável pela produção de vinhos de grande qualidade. Existem duas grandes zonas produtoras de vinho no Brasil; no nordeste, no Vale do Rio São Francisco são produzidas grandes quantidades de vinho graças ao clima, que permite até 4 colheitas ao ano, porém, esse excesso de sol não favorece a planta, a vinha, para produzir um bom vinho, precisa ser ‘maltratada’ . O tratamento ideal da vinha é o choque térmico do sol diurno e frio noturno, clima impossível de existir no norte do Brasil. Maltratar a planta torna seu crescimento lento, sua colheita será anual, e dessa forma, a planta absorverá todas as substâncias necessárias para dar qualidade ao vinho produzido. No sul do Brasil, a região de Bento Gonçalves é a grande produtora. As condições climáticas e de terroir são muito mais favoráveis, mas deve ser levada em consideração a presença de vales, rios, altitude, microclimas diversos… Nesse caso é necessário encontrar o ponto exato da região que produzirá o melhor vinho. Posso afirmar que o Brasil já apresenta vinícolas que produzem vinhos de boa qualidade e outras que estão no caminho certo. Sim, precisa haver mais aprimoramento e mais investimento para tornar-se um vinho competitivo no mercado.
Diálogos Gourmet: Acredita que, futuramente, o vinho nacional possa superar os importados? Por que?
Francesco Cherubin: Devido às limitações climáticas existentes, acredito que com grande empenho, seja no campo e nas estruturas das vinícolas, os vinhos brasileiros podem um dia encontrar sua recompensa no cenário mundial, porém, acredito que o fator de destaque para a produção brasileira será sempre a relação qualidade-preço. Creio que a tendência é que cresça nos próximos anos a quantidade de vinho produzido no Brasil e exportado. Esperemos que, quando esse momento chegar, políticas protecionistas não venham criar obstáculos às exportações brasileiras.
Diálogos Gourmet: Gosta dos nacionais? Quais são os preferidos e por que?
Francesco Cherubin: Como italiano não posso não amar o vinho, faz parte do meu DNA, é parte da cultura do meu povo praticamente desde a nossa origem… acredito que por trás de cada taça de vinho existe uma história a ser contada, feita de pessoas, de investimentos e de esperança. Com essa idéia romântica comecei a degustar os vinhos brasileiros, com curiosidade e sem nenhum preconceito. O vinho brasileiro que eu considero mais bem produzido, é sem dúvida, o espumante, sobretudo aqueles que passam pela refermentação dentro das garrafas (método champegnoise).

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